BRASILEIRO NÃO LEMBRA EM QUEM VOTOU E NÃO SABE O QUE É ESQUERDA OU DIREITA.
O brasileiro não sabe se é esquerda ou
direita, pois não lembra em quem votou.
Nas
eleições, o Brasil assiste a discursos ideológicos agressivos, e que terminam
com amizades de infância, e é intensificado nas redes sociais, postulando dois
lados: os de esquerda e os de direita, associadas pela maioria aos partidos PT
e PSOL de um lado, PMDB e PSDB, do outro lado.
Mas no Brasil não temos como definir um
posicionamento político apenas pelo viés partidário pode ser uma armadilha
repleta de estereótipos, já que essa divisão não reflete a complexidade e
contradições da sociedade, principalmente por ver Marina Silva sair do PT e
apoiar Aécio Neves. O fato é que não existe um consenso quanto a uma definição
comum e única de esquerda e direita. Existem “várias esquerdas e direitas”.
Isso porque esses conceitos são associados a uma ampla gama de pensamentos
políticos.
Vimos PT e PMDB governando o país e os
Estados, contrariando qualquer definição política ideológica, mas reforça a
ideia da política de resultados, que parecer ser mais importante que a postura.
Com a Assembleia Nacional Constituinte
montada para criar a nova Constituição, as camadas mais ricas não gostaram da
participação das mais pobres, e preferiram não se misturar, sentando separadas,
do lado direito. Por isso, o lado esquerdo foi associado à luta pelos direitos
dos trabalhadores, e o direito ao conservadorismo e à elite, mas podemos ver a
Zona mais rica votar nos partidos de esquerda, e os mais pobres votando nos
partidos de direita e conservadores.
No Rio de Janeir a Zona Sul votou, em sua maioria, no PSOL,
enquanto a Zona Oeste e Baixada votaram nos candidatos de grupos que dominam a
política, como é o caso do PMDB, representado pelo Eduardo Cunha e Picciani. A
política funciona de forma desornada, quando tratamos de analfabeto político.
Dentro dessa visão, ser de esquerda presumiria lutar pelos
direitos dos trabalhadores e da população mais pobre, a promoção do bem estar
coletivo e da participação popular dos movimentos sociais e minorias. Já a
direita representaria uma visão mais conservadora, ligada a um comportamento
tradicional, que busca manter o poder da elite e promover o bem estar
individual.
Com o tempo, as duas expressões
passaram a ser usadas em outros contextos. Hoje, por exemplo, os partidários
que se colocam contra as ações do regime vigente (oposição) seriam entendidos
como “de esquerda” e os defensores do governo em vigência (situação) seriam a
ala “de direita”.
Para o filósofo político Noberto Bobbio
, embora os dois lados realizem reformas, uma diferença seria que a esquerda
busca promover a justiça social enquanto a direita trabalha pela liberdade
individual.
Após a queda do Muro de Berlim (1989),
que pôs fim à polarização EUA x URSS, um novo cenário político se abriu. Por
isso, hoje, as palavras ‘esquerda’ e ‘direita’ parecem não dar conta da
diversidade política do século 21. Isso não quer dizer que a divisão não faça
sentido, apenas que ‘esquerda’ e ‘direita’ não são palavras que designam
conteúdos fixados de uma vez para sempre. Podem designar diversos conteúdos
conforme os tempos e situações.
"Esquerda e direita indicam
programas contrapostos com relação a diversos problemas cuja solução pertence
habitualmente à ação política, contrastes não só de ideias, mas também de
interesses e de valorações a respeito da direção a ser seguida pela sociedade,
contrastes que existem em toda a sociedade e que não vejo como possam
simplesmente desaparecer. Pode-se naturalmente replicar que os contrastes
existem, mas não são mais do tempo em que nasceu a distinção", escreve
Bobbio no livro "Direita e Esquerda - Razões e Significados de uma
Distinção Política".
No Brasil, essa divisão se fortaleceu no período da Ditadura
Militar, onde quem apoiou o golpe dos militares era considerado da direita, e
quem defendia o regime socialista, de esquerda.
Com o tempo, outras divisões apareceram dentro de cada uma
dessas ideologias. Hoje, os partidos de direita abrangem conservadores,
democratas-cristãos, liberais e nacionalistas, e ainda o nazismo e fascismo na
chamada extrema direita.
Na esquerda, temos os social-democratas, progressistas,
socialistas democráticos e ambientalistas. Na extrema-esquerda temos movimentos
simultaneamente igualitários e autoritários.
Há ainda posição de "centro".
Esse pensamento consegue defender o capitalismo sem deixar de se preocupar com
o lado social. Em teoria, a política de centro prega mais tolerância e
equilíbrio na sociedade. No entanto, ela pode estar mais alinhada com a
política de esquerda ou de direita. A origem desse termo vem da Roma Antiga,
que o descreve na frase: "In mediun itos" (a virtude está no meio).
A política de centro também pode ser
chamada de "terceira via", que idealmente se apresenta não como uma
forma de compromisso entre esquerda e direita, mas como uma superação
simultânea de uma e de outra.
Essas classificações estariam divididas
no que podemos chamar de uma “régua” ideológica:
EXTREMA-ESQUERDA | ESQUERDA |
CENTRO-ESQUERDA | CENTRO | CENTRO-DIREITA | DIREITA | EXTREMA-DIREITA
Para os brasileiros a diferença entre
as ideologias não parece tão clara. Em 2014, durante as eleições, a agência
Hello Research fez um levantamento em 70 cidades das cinco regiões do Brasil
perguntando como os brasileiros se identificavam ideologicamente. Dos 1000
entrevistados, 41% não souberam dizer se eram ideologicamente de direita,
esquerda ou centro.
A porcentagem dos que se declaram de
direita e esquerda foi a mesma: 9%. Em seguida vem centro-direita (4%),
centro-esquerda e extrema-esquerda, ambas com 3%, e extrema-direita (2%).
Quando a pergunta foi sobre a tendência ideológica de sete partidos (DEM, PT,
PSDB, PSB, PMDB, PV, PDT, Psol, PSTU), mais de 50% não souberam responder.
Em determinados momentos da história,
ambas as ideologias assumiram posturas radicais e, nessa posição, tiveram
efeitos e atitudes muito parecidas, como a interferência direta do Estado na
vida da população, uso de violência e censura para contra opositores e a
manutenção de um mesmo governo ou liderança no poder.
Ao longo do século 20, parte do
pensamento de esquerda foi associada a bases ideológicas como marxismo,
socialismo, anarquismo, desenvolvimentismo e nacionalismo anti-imperialista
(que se opõe ao imperialismo).
O mesmo período viu florescer Estados
de ideologias totalitárias como o nazismo (1933-1945), fascismo (1922-1943),
franquismo (1939-1975) e salazarismo (1926-1974), que muitas vezes se
apropriaram de discursos da esquerda e da direita.
Outro tema fundamental para as duas correntes é a visão sobre
a economia. Os de esquerda pregam uma economia mais justa e solidária, com
maior distribuição de renda. Os de direita seriam associados ao liberalismo,
doutrina que na economia pode indicar os que procuram manter a livre iniciativa
de mercado e os direitos à propriedade particular. Algumas interpretações
defendem a total não intervenção do governo na economia, a redução de impostos
sobre empresas, a extinção da regulamentação governamental, entre outros.
Mas isso não significa que um governo
de direita não possa ter uma influência forte no Estado, como aconteceu na
Ditadura. Em regimes não-democráticos, a direita é associada a um controle
total do Estado.
O termo neoliberalismo surgiu a partir
dos anos 1980, associados aos governos de Ronald Reagan e Margareth Thatcher,
que devido à crise econômica do petróleo, privatizaram muitas empresas públicas
e cortaram gastos sociais para atingir um equilíbrio fiscal. Era o fim do
chamado Estado de Bem-Estar Social e o começo do Estado Mínimo, com gastos
enxutos.
Para a esquerda, o neoliberalismo é
associado à direita e teria como consequências a privatização de bens comuns e
espaços públicos, a flexibilização de direitos conquistados e a desregulação e
liberalização em nome do livre mercado, o que poderia gerar mais desigualdades
sociais.
O liberalismo não significa
necessariamente conservadorismo moral. Na raiz, o adjetivo liberal é associado
à pessoa que tem ideias e uma atitude aberta ou tolerante, que pode incluir a
defesa de liberdades civis e direitos humanos. Já o conservador seria aquele
com um pensamento tradicional. Na política, o conservadorismo busca manter o
sistema político existente, que seria oposto ao progressismo.
Direita e esquerda também têm a ver com
questões morais. Avanços na legislação em direitos civis e temas como aborto,
casamento gay e legalização das drogas são vistas como bandeiras da esquerda,
com a direita assumindo a defesa da família tradicional. Nos Estados Unidos,
muitos eleitores se identificam com a chamada direita cristã, que defendem a
interferência da religião no Estado.
No entanto, vale destacar que hoje
muitos membros de partidos tidos como centro-direita defendem tais bandeiras da
esquerda, exceto nos partidos de extrema-direita (como podemos observar na
Europa), que são associados ao patriotismo, com discurso forte contra a
imigração (xenofobia).
Joel Fraga
Jornalista
fonte:Andréia
Martins
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