DEPUTADO MEDIOCRE PODE SER PRESIDENTE E SALVAR O SOGRO DE CONDENAÇÃO
Rodrigo Maia pode ser a salvação do sogro
Moreira Franco, quando assumir a presidência da República.
O
deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), amargou a derrota nas urnas com 2,9%
dos votos válidos na briga pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 2012.
Espreitado pela Operação Lava Jato, por ser assessor de empresas no Congresso e
receber propinas pelo trabalho. E mesmo sendo um deputado medíocre, se prepara
para assumir interinamente a presidência da República em caso de afastamento do
presidente Michel Temer (PMDB), mesmo tendo complicações com a justiça, fato
que não compreendo como o STF permite.
Enquanto Temer luta pela sobrevivência e pelo apoio minguante
do Congresso, Maia faz um jogo duplo: posa de fiel aliado do presidente sem
mover um dedo para salvá-lo, visando subir a rampa, como mais um indigno e sem
popularidade.
O presidente da Câmara dos Deputados
evita despontar nos holofotes como interessado na cadeira de Temer. Mas deixou
Temer à própria sorte. Nos bastidores, influenciou na escolha do deputado
federal Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) como relator da proposta de ação penal contra
Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), certo do voto do relator ser
favorável aos seus anseios.
A posição seria um cheque em branco para qualquer
parlamentar, mas Zveiter, um neófito no PMDB, é considerado um deputado
motivado por agenda própria e é esperado que seu relatório seja favorável à
abertura de um processo contra Temer. O andamento de uma ação penal contra o
presidente no Supremo Tribunal Federal depende da aprovação por dois terços dos
votos no plenário da Câmara, mas o relatório e o resultado da votação na CCJ,
que pode acontecer já na semana que vem, são âncoras importantes para o
comportamento do plenário, onde ainda não se sabe até quando o apoio ao
presidente resiste. Se aprovado o processo na Câmara, Temer será afastado da
presidência por 180 dias e Maia assumirá interinamente até o resultado do
julgamento no Supremo Tribunal Federal. Se Temer acabar condenado pelo Supremo
Tribunal Federal, Maia terá de convocar eleições indiretas pelo Congresso e
também aí, em tese, se dá bem: é um dos nomes cotados para a escolha dos
parlamentares.
Os gestos de indiferença para com o Planalto se acumulam.
Depois do primeiro processo por corrupção, Temer deve virar alvo de mais duas
ações penais. Para atenuar o desgaste e facilitar a barganha com parlamentares,
o presidente queria que todas ações fossem analisadas de uma só vez pelo
Congresso. Maia nem tentou algum movimento legal para socorrer o presidente.
Decidiu tramitar separadamente as ações penais contra Temer na Câmara. Enquanto
o peemedebista tenta transmitir “quase certeza absoluta” de rejeição da
denúncia no plenário do Congresso, Maia admite publicamente que é “grave” a
acusação de que o presidente era o destinatário da mala de R$ 500 mil entregue
pela JBS ao deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). A passagem de
homem de confiança do Planalto para uma interessada neutralidade institucional
acontece ao mesmo tempo em que os dirigentes do PSDB, o mais importante aliado
de Temer, dão mostras de que o desembarque pode se impor nos próximos dias. À
elite político-empresarial fiadora do impeachment de Dilma Rousseff, ele já
envia sinais de que manterá a equipe econômica e sugere que pode revigorar a
coalizão a ponto de aprovar uma reforma mínima da Previdência, por exemplo.
Para que não ficasse qualquer dúvida de suas intenções, já havia declarado em
maio: "A Câmara vai manter a defesa da agenda do mercado”.
Só que Maia se equilibra entre sinalizações opostas. Já
segurou a tramitação de mais de 18 pedidos de impeachment contra Temer.
Ex-prefeito do Rio por três mandatos, o vereador Cesar Maia (DEM-RJ), pai de
Rodrigo, se empenha em disfarçar qualquer esforço do filho para assumir a
presidência da República. “Ele nem pensa nessa possibilidade”, afirmou Cesar
Maia ao EL PAÍS por e-mail.
Maia foi um caso raro de parlamentar com votação decrescente
após disputa por prefeitura. Caiu de 86.162 votos em 2010 para 53.167 votos em
2014
A queda de Temer serviria de refúgio legal para Maia, ainda
que não o livre de turbulências provocadas pela Lava Jato. Se assumir a
presidência da República, o deputado fica protegido no Olimpo presidencial da
artilharia de ações penais do Ministério Público. Quem sobe a rampa do Palácio
do Planalto se beneficia do entendimento jurídico do atual procurador-geral,
Rodrigo Janot, de que crimes anteriores ao exercício da presidência da
República não podem ser investigados ou denunciados enquanto durar o mandato
presidencial. Assim, o presidente da Câmara ganha tempo para driblar os
inquéritos em que é apontado como beneficiário de pelo menos R$ 2 milhões em
propinas e caixa dois, pagos pela OAS e pela Odebrecht. Na última empreiteira,
era apelidado de "Botafogo" nas planilhas do departamento de
propinas.
Também por razões afetivas Maia se beneficia de um eventual
mandato presidencial. Pai de quatro filhos (Maria Beatriz, Ana Luiza, Maria
Antônia e Rodrigo), o deputado é casado com a enteada de Moreira Franco, atual
ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República. Se acabar o Governo
Temer, Maia é a última esperança de salvação do sogro com foro privilegiado.
Sem um ministério, Moreira Franco passaria a investigado na Justiça Federal
pelo recebimento de mais de R$ 4 milhões em propinas. E aí sentenças correm bem
mais rápido do que no Supremo Tribunal Federal.
Embora diga que não pretende mais
concorrer a cargos no Executivo, na presidência da Câmara Maia não desperdiçou
a chance de conquistar a adesão de máquinas de prefeituras para voos mais altos
– para si mesmo ou para o pai. Começou em junho uma série de reuniões com
prefeitos onde prometeu abrir a bica de emendas orçamentárias e ajudar na
solução de problemas administrativos. O pai diz que, apesar disso, ele não
disputará o Governo do Rio no ano que vem em nenhum cenário. “Nada mudou. Ele
não concorrerá a governador”, afirmou.
De qualquer jeito, Maia precisa recuperar votos até para
sobreviver na Câmara dos Deputados nas próximas eleições. De acordo com a
cientista política Carolina de Paula, pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre o
Congresso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ele foi um caso raro
de parlamentar com votação decrescente após disputa por prefeitura. Caiu de
86.162 votos em 2010 para 53.167 votos em 2014.
O Núcleo de Estudos sobre o Congresso da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) conduziu em maio uma pesquisa qualitativa com
grupos focais sobre as percepções dos eleitores fluminenses em relação aos
deputados federais do estado. As conclusões foram desfavoráveis para o sucesso
eleitoral no ano que vem do presidente da Câmara. “Rodrigo Maia é aquilo que as
pessoas identificam como político clássico: o pai é político, o sogro também.
Para 2018, ele é o que as pessoas não querem. Na pesquisa, as pessoas querem
renovação. O melhor negócio para ele é ficar na sombra. Mas talvez assumir a
presidência da República possa ajudá-lo a concorrer a algum cargo mais
competitivo, se conseguir realizar uma transição razoável”, afirmou a
pesquisadora.
Cesar Maia minimiza a votação decrescente do filho. Diz que o
desempenho acompanhou o declínio do DEM e do PSDB em 2014. “A votação decrescente
correspondeu à mesma tendência (declinante) do DEM e do PSDB e crescente do PT.
O quadro agora é o contrário, com debacle do PT”, afirmou. Mas Cesar não fala
do caso do parceiro de coligação de Rodrigo, Otávio Leite (PSDB-RJ), que também
teve votação pífia para a prefeitura do Rio em 2012 e ganhou cerca de 20 mil
votos entre 2010 e 2014, somando 106 mil votos.
Desde que conquistou a presidência da Câmara em julho do ano
passado pela primeira vez, Maia exibiu uma faceta desconhecida ao eleitor:
chorou emocionado. Voltou a chorar publicamente quando conquistou novo mandato,
desta vez de dois anos, em fevereiro. Mas amigos destacam que ele possui sangue
frio. Maia sabe esperar pacientemente até um atalho aparecer. Como quando
entrou na política contra a vontade do pai. Rodrigo ficou fora da primeira
gestão de Cesar na Prefeitura do Rio (1993-1996) e só conseguiu o primeiro
cargo político como secretário municipal de governo de Luiz Paulo Conde
(1997-2000), apoiado pelo clã na eleição de 1996. Naquele momento, Maia sabia
esperar e queria arriscar – o cargo foi o trampolim para a conquista do
primeiro mandato de deputado federal em 2000. O desempenho nas urnas só piorou
de lá para cá, mas hoje ele não precisa se arriscar enquanto Temer se atola na
Justiça. Esperar o erro dos outros pode render um mandato presidencial.
Joel Fraga
Jornalista
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